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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ACIONISMO VIENENSE


Ao passarmos pela  era digital, o corpo se tornou  um meio cada vez maior para a discussão da arte, somado aos experimentalismos sensoriais.
O uso do corpo como forma artística  está difundido em vários lugares do mundo através de várias manifestações artísticas.  No contexto destas  práticas artísticas voltadas ao corpo humano, a Áustria foi palco de um dos movimentos mais importantes que ocorreram na década de sententa. Este movimento se chamava Acionismo Vienense e começa a surgir em meados de 1965/1970 e marcou uma trajetória impactante de ações em função dos diversos conflitos passados no país no século XX, principalmente o pós- guerra.
O movimento Acionismo Vienense  evidencia o desprendimento do indivíduo que encontra suas marcas e sua potência de liberdade através do corpo.  Ele  tem como alvo a sociedade burguesa, as suas repressões e os seus tabus, buscando o entendimento da identidade e conquista da liberdade.
Protagonizado pelos artistas austríacos Herman Nitsch, Otto Mühl, Rudolf Schwarzkogler e Günter Brus e pelos escritores Gerhard Rühm e Oswald Wiener, o movimento foi indicador da Body Art e suas influências se expandiram até os dias atuais.
Inspirados pelo lema da redenção e da liberdade, assumindo um papel transgressor e até meio  messiânico, os ''acionistas'' acreditavam realizar ações puras desprovidas de qualquer caráter estético, sem o fim de contemplação ou reflexão, numa busca catártica de libertação.
Em suas ações ligadas sempre a destruição,  os artistas se cortam, se mutilam como expressão de liberdade. Na realidade há um grande drama. Os precurssores do Acionismo Vienense exploraram o corpo de maneira extrema, chegando a jogar  merda no público. Executavam perfomances como defecando e ingerindo  suas próprias fezes e urina.  O absurdo era explorar o corpo como um encontro com a arte. Para eles a matéria era a obra e a experiência do artista. A arte era a junção do meio material com a expressão e a gestualidade do artista se manifestando como uma resposta.
Atualmente a idéia de corpo como matéria-prima do artista, vem sendo pensada e trabalhada junto às esferas tecnológicas e biológicas. Para alguns estudiosos, o corpo surge do diálogo com as manifestações artísticas do passado, que o tiveram como foco de suas reflexões. De fato, a reconfiguração do corpo humano na sua fusão tecnológica está instaurando outra forma de relação entre o homem e o espaço mediado pela máquina. Isto tem despertado o interesse de alguns artistas que tentam colocar em prática sensações e questionamentos.
Trabalhando com este universo, temos o exemplo do artista australiano Stelarc. Ele concentra suas obras fortemente no futurismo e na extensão das capacidades do organismo. Como tal, a maioria de seus trabalhos estão centrados em torno do conceito de que o corpo humano é obsoleto.
As performances de Stelarc envolvem robótica ou outras tecnologias relativamente modernas. Em uma delas, permitiu que seu corpo fosse controlado remotamente por estimuladores eletrônicos de músculos conectados à internet. Surpreendendo em 2007, ele causou polêmica ao cultivar uma prótese de orelha humana através de cultura celular e depois implantá-la em seu braço esquerdo com uma cirurgia. O artista foi o primeiro e único homem a utilizar esta técnica.
 Se olharmos sobre a arte no Brasil, veremos  como um dos seguidores dessa tendência, o artista carioca Eduardo Kac, que explora o “terreno biológico”, buscando o diálogo físico entre o corpo e o robô.
Em 1997, programado para fazer parte do evento “Arte e Tecnologia”, do Instituto Cultural Itaú (ICI), o artista teve seu trabalho “Time Capsule” vetado pelo departamento jurídico da Instituição, por implicar risco de vida.
Para fazer “Time Capsule”, Eduardo Kac teria que tomar uma anestesia local e introduzir uma máquina projetada especialmente para o trabalho em seu corpo. Ele se propôs a assinar um termo de responsabilidade pela apresentação da obra, mas nem isso foi suficiente para comover o departamento jurídico. “Esse tipo de preocupação, a partir do momento em que o elemento biológico está envolvido, não é infundada. Mas a obsessão com isso é uma constante”, afirmou o artista na época.


Entre os movimentos de arte  que se notabilizam com o uso do corpo estão:

Fluxus:  traduz uma atitude diante do mundo, do fazer artístico e da cultura que se manifesta nas mais diversas formas de arte: música, dança, teatro, artes visuais, poesia, vídeo e fotografia. Seu nascimento oficial está ligado ao Festival Internacional de Música Nova, em Wiesbaden, Alemanha, 1962 e a George Maciunas (1931-1978), artista lituano radicado nos Estados Unidos. Suas realizações envolvem não apenas objetos, mas também sons, movimentos e luzes num apelo simultâneo aos diversos sentidos: visão, olfato, audição, tato. Nelas, o espectador é convidado a participar dos espetáculos experimentais, em geral, descontínuos, sem foco definido, não-verbais e sem seqüência previamente estabelecida.

Body Art: designa uma vertente da arte contemporânea que toma o corpo como meio de expressão e/ou matéria para a realização dos trabalhos, associando-se freqüentemente a happenings e performances. Não se trata de produzir novas representações sobre o corpo, encontráveis no decorrer de toda a história da arte,  mas de tomar o corpo como suporte para realizar intervenções, de modo geral, associadas a violência, a dor e ao esforço físico. Sangue, o suor, o esperma, a saliva e outros fluidos corpóreos mobilizados nos trabalhos interpelam a materialidade do corpo, que se apresenta como suporte para cenas e gestos que tomam por vezes a forma de rituais e sacrifícios.

Performance: é uma forma de arte que combina elementos do teatro, das artes visuais e da música. Nesse sentido, a performance liga-se ao happening (os dois termos aparecem em diversas ocasiões como sinônimos), sendo que neste o espectador participa da cena proposta pelo artista, enquanto na performance, de modo geral, não há participação do público. A performance deve ser compreendida a partir dos desenvolvimentos da arte pop, do minimalismo e da arte conceitual, que tomam a cena artística nas décadas de 1960 e 1970. No Brasil, Flávio de Carvalho (1899-1973), foi um pioneiro a partir de meados dos anos de 1950. Além dele, destacaram-se: Hudinilson Jr.(1957), Hélio Oiticica (1937-1980), Guto Lacaz (1948) e o Grupo Rex.

Saiba sobre isso:

''Adeus mundo'' é o nome da performance do artista visual pernambucano Aslan Cabral. Nesse trabalho, ele simulou sua própria morte. Ao tomar um coquetel de medicamentos, o artista ficou 6 horas inconsciente e passou por todo o processo funerário: da lavagem de seu corpo a ser colocado dentro de um caixão. Segundo Aslan, essa foi uma experiência única que lhe fez rever seu papel no mundo: o de artista como comunicador. Para ele, a relação do artista com seu corpo é algo complexo, que reflete o lidar com o mundo.

Um comentário:

  1. Maravilhoso texto! Me encanta pesquisar sobre o corpo nas expressões artísticas.

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