( Kalmakoff na Galerie Charpentier, Paris-1928)
Em 1955, um russo emigrado na França morreu sozinho, desconhecido e na pobreza em Lagny, um hospital ao norte de Paris. Ele viveu misteriosamente sua existência em seu pequeno quarto no hotel de la Rochefoucault em Paris, como um aristocrata. Ao longo do período que viveu, silenciosamente ele criou um corpo fascinante de trabalho com pinturas que após sua morte foi considerado excêntrico e sem valor, ficando o material trancado num depósito e armazenadamente foi esquecido. Ao longo de sua vida solitária, o artista tinha pintado obras que refletem suas obsessões com o martírio, o ascetismo, a decadência, a espiritualidade e a sexualidade.
Executado em um estilo marcado pela russa art nouveau, suas imagens no entanto, transcenderam este movimento, tendo traços inegáveis de uma visão muito particular e de fato genial.
Apenas no ano de 1962, algumas de suas obras vêm à tona quando Collin Bertrand du Bocage e Georges Martin du Nord descobrem quarenta telas no Marché aux Puces, um mercado de pulgas grande ao norte de Paris.
Todas as obras desta coleção instigante foram assinadas com monograma um 'K' estilizado. O comerciante que vendeu, um húngaro colocou juntamente com o lote dos quadros, um cartaz de uma exposição realizada na Galerie Le Roy, em Bruxelas, em 1924. E após uma pesquisa através de documentos o ''k'' revelava o nome do artista Nicholas Kalmakoff.
Collin Bertrand du Bocage e Georges Martin du Nord estudaram e pesquisaram a vida deste grande artista e depois da obscuridade por trinta e sete anos, as obras de Kalmakoff foram exibidas na Motte Galerie de Paris, em fevereiro de 1964. Isso levou à descoberta de vinte e quatro novas obras em Metz, incluindo toda uma série que já decorava uma capela dedicada (ironicamente) para o ressuscitado chamado Chapelle du Fortin Résurrectoire.
Quatro anos depois, uma outra exposição seguiu na Galerie Jacques Henri Perrin para mostrar o genial trabalho de Kalmakoff, que aos poucos foi se tornando conhecido.
Finalmente em maio de 1986, uma grande exposição de suas obras foi organizada pelo Musée de La Galerie-Seita, resultando na monografia intitulada KALMAKOFF, L'Ange de l'abîme, 1873-1955.
Um documentário também foi produzido por Annie Tresgot ( L'Ange de l'abîme) com entrevistas de artistas contemporâneos de Kalmakoff. Através destas diversas fontes (todas em francês), uma imagem sombria e fragmentada deste recluso artista emerge. E ainda, as próprias obras, muitas delas auto-retratos, convida a uma infinidade de especulações sobre sua vida e a visão muito original que ele criou sobre o mundo.
Será que seus ideais espirituais levaram-no para um extremo ascetismo, que depois teve o efeito contrário de liberar em suas telas uma rica profusão de erotismo reprimido, misoginia e narcisismo - que culminou com delírios e até divindade?
O enigma de sua vida e sua obra permanecem sem solução, mas suas imagens são extremamentes fortes e nos impressionam.
Este fato mostra, mais uma vez, que o conceito de arte é mutante de acordo com seu tempo e nos leva a pensar o quanto é relativo as definições do que seja ou não arte. Portanto façamos de nossas vidas a obra de arte maior e esqueçamos o sistema que elege e exclui. Bjos Andy
ResponderExcluirTambém acredito que a arte é algo que está em transformação , basta um olhar mais atento.
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