Através de minha amiga artista plástica argentina Kuke Castineiras que reside em Florianópolis, conheci a obra do artista Pedro Cuevas. Pedro é argentino e estudou arquitetura, porém se encontrou nas artes plásticas. Sua história de vida carrega a arte como uma referência muito importante no seu destino. Ele sempre gostou de desenhar desde criança e isto, foi o ponto culminante em se encontrar como indíviduo e poder expressar o que sentia. Enquanto ele estudava arquitetura em Buenos Aires, passou por conflitos existencias, pois percebeu que a arte era muito mais forte em sua mente, do que ter um diploma acadêmico.
Como todo jovem , ele perseguia a idéia de que era necessário ter ter um diploma universitário, para obter sucesso na vida e assim ele traçou suas metas e perspectivas. No seu curso de arquitetura, ele passou por todo histórico disciplinar analítico de cálculo, física e todas as disciplinas que lhe aguçavam a arte que estava nele contida. Estudou desenho profudamente e percebeu seu conflito interno, pois seus caminhos pareciam ser diferentes do que ele tinha se proposto. Pedro Cuevas sentiu que seu desenho precisava ser estudado de outra maneira. Ele sentia uma angústia, que deveria seguir outro rumo e experimentar um novo caminho para tentar ser feliz.
Depois de quatro anos ele decidiu romper seus estudos acadêmicos e abandonou o curso de arquitetura. Porém ele retornaria a Universidade para estudar Arte Plásticas, sem ter muita noção do que encontraria. Havia um mundo novo para ser explorado por ele.
Um dia , um colega pintor o convidou para ir onde morava, para ver seu trabalho. Pedro relata que era em uma pensão decadente num bairro horrível de Buenos Aires. Quando ele entrou no quarto do colega, sentiu o forte cheiro de terebentina (óleo que se usa para diluir a tinta a óleo) e da tinta que o pintor usava. Neste momento olhando as tintas e sentindo o cheiro, ele viu um pedaço do universo de um artista e percebeu, que era exatamente o que queria ser. Pedro conta que se sentiu extremamente feliz naquele momento e que sentiu uma forte emoção, por ter descoberto o que queria realmente fazer na sua vida. Foi como uma luz que tivesse aberto a sua mente. Sua paixão pela arte começa neste instante. E ao se portar aos grandes mestres da história arte, ele introjetou em seu pensamento que queria contribuir com algo grandioso na sua experiência artística para com as pessoas. Ele transfigurou seus medos e entrou de cabeça na arte, indo ao encontrou do seu próprio ''eu''. Começou a pintar e foi experimentando seu desenho, criando seu próprio universo e percorrendo novos caminhos de possibilidades na criação artística.
Para ele, seu talento havia sido reprimido em função de uma conjuntura social e seu encontro com a arte foi mágico e trangressor, como se ele voltasse a ser novamente uma criança.
Eu entrei em contato com a obra de Pedro e investiguei o trabalho dele com detalhes. Executei um olhar crítico e posso dizer que é apaixonante o que ele faz. Quando vi algumas imagens de sua obra, fiquei questionando o seu processo para entende-lo melhor. Fui organizando aos poucos as idéias, pois sua arte é forte e com uma iconografia muito humana e complexa ao mesmo tempo. Há um simbolismo e uma racionalidade muito medida, controlada, imposta, como se fosse um sopro forte pra acordar. Muitas vezes eu confesso que levo um tempo observando a obra de um artista para entender a dimensão de seu trabalho. E quando li sua história de vida e seu envolvimento com a arte, percebi que meus questionamentos com relação ao seu trabalho ficaram mais claros. Eu realmente gostei da arte de Pedro. Ele tem uma alma de artista, destes que parecem morrer pelo que fazem. Ele expressa um romantismo e uma poética, que há muito tempo não encontramos em muitos artistas. A ótica de como ele imprime sua mensagem é muito humana e livre.
Pedro tem algo visceral na composição de sua obra e é um artista que demonstra vivacidade no que produz. São detalhes, são pedaços de vida que ele reúne e forma um desenho sentimental.
Ele se joga de corpo e alma na construção de seu trabalho, como se tudo pudesse ser transformado num novo universo. Seu olhar é meticuloso e criativo. Há em sua obra uma integração de gesto, matéria e espírito.
Ele se lançou pelo mundo, passou pintando por lugares exóticos como Senegal, Mali e Dogon Pays (2004), em Paris e Amsterdam (2002), e na Itália (2001).
A partir de 2004, ele viajou por toda a Espanha onde seu trabalho é sempre influenciado pelo ambiente local. Cada cidade por onde ele passa, executa um trabalho de arte diferente, faz contatos, executa pesquisas, comercializa , deixando seu registro como uma memória do lugar ou seja, algo que funciona como um raio-x de seu olhar artístico. Ele se encontra com diversos artistas e faz vários trabalhos em conjunto, somando uma diversidade de conhecimentos, principalmente em Barcelona. Pedro, vai depois para a Alemanha, onde faz várias experiências de arte com artistas na cidade de Berlim.
Em 2008 ele retorna para a Argentina e se instala em Buenos Aires, onde reside e trabalha.
Na trajetória deste artista, voce percebe que ele somou todas as suas experiências e as vivencia com rigor através de seus registros e da composição pictórica e performática encontrada em sua obra.
A arte de Pedro Cuevas é influenciada por várias escolas e movimentos, passando pelo surrealismo, realismo, impressionismo, bem como pela pintura de Velasquez, Goya , Basquiat, Tápies, Jasper Jones e outros artistas e estilos.
Seu contato com a arte mural, com grafiteiros, artistas de ateliers e de outra midias, somaram na sua linguagem. Ele aprendeu a usar diversos tipos de tintas e suportes com suas experimentações. Para Pedro, pode ser um simples lápis de cor ou tinta, sangue ou vinho tinto. Sua arte é deixar uma prova , um rastro de sua identidade e uma marca impregnada de humanidade.Tudo nele pode ser uma experimentação lúdica de possibilidades e ele se arrisca sempre. Pedro deixa os códigos de sua personalidade e de sua experiência humana. Sua obra transita pela perfomance, vídeo, arte gráfica, ilustração e pintura.
Ele cria para ir além dos limites da compreensão e para superar medos, como um jogo que a vida lhe propicia. Em Pedro Cuevas a arte é felicidade, é arriscar-se constantemente como um instrumento de energia. E sua felicidade é jogar com a extrema existência.
Ele tem diversas exposições e interações artísticas na América Latina , bem como pela Europa.
Atualmente em Buenos Aires, ele abriu o espaço para a pesquisa artística dentro do Escritório Psquiátrico Nenna Canale do Dr. Damian Berenstein (http://www.nennacanale.com/), onde executa um trabalho como artista e curador. Sua proximidade com as questões da mente lhe aprofundaram suas experiências e na realizações de trabalhos perfomáticos.
Pedro Cuevas é também o responsável pela Direção Artística do Centro Cultural do Hospital Neuropsiquiátrico Borda (http://www.centroculturalborda.blogspot.com/).
Tem uma frase que me faz lembrar o trabalho dele : ''De médico e de louco, todos nós temos um pouco''. Pedro, vai muita mais que a loucura, ele é a vida se trasformando em todas as possibilidades existenciais.
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