Jean Michel Basquiat foi um pintor afro-americano que criou um universo artístico repleto de códigos de street art e de um grafismo extremamente forte e urbano, sendo um dos grandes precurssores do graffiti.
Seu pai Gerard Jean-Baptiste Basquiat foi ministro do interior do Haiti e se tornou proprietário de um grande escritório de contabilidade ao imigrar para os Estados Unidos. Sua mãe Mathilde Andrada era de origem portorriquenha.
Jean foi o primeiro, dos três filhos do casal, de classe média alta e desde pequeno gostava de desenhar.
Jean Michel Basquiat, aos três anos de idade desenhava caricaturas e reproduzia personagens dos desenhos animados da televisão. Mas seu gosto pela arte se tornou coisa séria e um dos seus programas favoritos era frequentar o MOMA, Museu de Arte Moderna de Nova Yorque . Ele inclusive tinha carteira de sócio-mirim.
Uma tragédia o colocou ainda mais próximo da arte, quando aos sete anos foi atropelado e no acidente teve o baço dilacerado. Foi submetido a uma cirurgia e ficou uma temporada no hospital. Sua mãe lhe deu de presente um livro de anatomia, chamado Gray's Anatomy, que teria grande influência em seu futuro como artista.
Este universo da anatomia seria inserido em seu trabalho de pintura com corpos humanos .
Jean Michel Basquiat criou uma banda musical de curta duração em 1979, cujo nome era Gray's, que tinha a sonoridade latina vinda do Caribe e Porto Rico, que brilhavam na cena artística novaiorquina como o hip hop, o break e o rap.
Com o divórcio dos pais ele muda com o pai e as irmãs para Porto Rico e lá vivem de 1974 a 1976.
Basquiat toma contato com suas origens latinas.
Aos 17 anos está de volta a Nova York e não consegue se adaptar às escolas convencionais. Passa a frequentar a Edward R. Murrow High School mas a abandona praticamente no final do curso.
Sai de casa e vai morar com amigos, e passa a pintar camisetas que ele mesmo vende nas ruas.
Com o artista gráfico Al Diaz cria a SAMO (same old shit - mesma velha merda), marca e assinatura que usava para espalhar as suas obras pelas paredes da cidade. Passa a viver nas ruas e a grafitar paredes, portas de casas e metrôs de Nova York.
Aos poucos torna-se uma celebridade, começa a aparecer num programa da TV a cabo e é convidado a participar do filme Downtown 81, investindo o dinheiro que ganhou em materiais de pintura.
O filme relata um dia na vida do jovem artista à procura da sobrevivência e mistura hip hop, new wave e graffiti, manifestações artísticas típicas do início da década de 80.
Com a fama adquirida passa a ter dinheiro, torna-se um artista internacional da chamada vanguarda.
Ele se torna amigo de pessoas influentes, conhecendo e convivendo com Andy Warhol, com quem compartilhou forte amizade.
Andy Warhol proporcionou a ele lugar para morar, materiais para trabalhar, além de ajudar a divulgar o seu trabalho e patrocinar algumas excentricidades, típicas de endinheirados.
Nessa época Basquiat abandonou a arte de rua e o graffiti e decreta nas paredes: "SAMO morreu".
Começa a pintar telas que passam a ser adquiridas e comercializadas por marchands de Zurique, Nova York, Tóquio e Los Angeles, ávidos por novidades. De artista que vivia precariamente passa a ser um artista consumido e recebido nos salões mais chiques e exclusivos de Nova York.
A arte de Basquiat é classificada como de "primitivismo intelectualizado", uma tendência neo-expressionista, retratando personagens esqueléticos, rostos apavorados, rostos mascarados, carros, edifícios, policiais, ícones negros da música e do boxe, cenas da vida urbana, além de colagens, junto a pinceladas nervosas, rabiscos, escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e em telas grandes.
Quase sempre o elemento negro está retratado em meio ao caos.
Há também uma dessacralização de ícones da história da arte, como a sua Mona Lisa (acrílico e óleo sobre tela) que é uma figura deformada riscada com lápis colorido.
O período mais criativo da curta vida e da carreira meteórica de Basquiat situa-se entre 1982-1985, e coincide com a amizade com Warhol, época em que faz colagens e quadros com mensagens escritas, que lembram o graffiti do início e que remetem às suas raízes africanas. É também o período em que começa a participar de grandes exposições.
Em 1982, com a mostra Anatomy, Baquiat foi o mais jovem artista da famosa exposição Dokumenta, de Kessel e também em 1983, o mais jovem artista da Bienal do Whitney Museum, de Nova York.
Daí em diante ele participa de várias exposições e passa a ter trabalhos espalhados por vários museus mais importantes do mundo, como: Osaka City Museum of Modern Art no Japão; Chicago Art Institute, de Illinois, Everson Museum of Art Syracuse de Nova York, Solomon R. Guggenheim Museum de Nova York, Kestner-Gesellschaft de Hannover, Museum Boymans-Van Beuningen de Roterdã, Museum of Contemporary Art de Chicago, Museum of Contemporary de Los Angeles, Museum of Modern Art de Nova York Museum of Fine Arts de Montreal e Whitney Museum of American Art de Nova York.
A morte do amigo e protetor Andy Warhol, em 1987, deixa Basquiat abalado e debilitado e isso se reflete na sua criação. Os críticos, sempre muito exigentes, já não o tratam com unanimidade e Basquiat responde a essas cobranças, associando-a ao racismo arraigado na sociedade americana.
Basquiat começa a consumir drogas e em agosto de 1988, ele morre por overdose de heroína, que põe fim à carreira brilhante do primeiro afro-americano a ter acesso à fechada cena das artes plásticas novaiorquinas.
Seu trabalho é cultuado em todo o mundo e passou a ser referência na arte contemporânea.
Sua exposição de 1996 na 23a. Bienal em São Paulo teve uma sala especial com suas obras e em 1998 foi montada uma retrospectiva dele na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Em 2010, foi organizada em Paris uma grande exposição sobre sua obra , causando enorme sucesso de público.