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domingo, 20 de fevereiro de 2011

A RECRIAÇÃO OU RECICLAGEM CULTURAL

 ''No entorno do universo inaugurado pelo sampler, as práticas de reutilização, apropriação e reciclagem de mídias invertem o lugar do anônimo. Nesse contexto, reciclar é marca de uma sociedade em que o excesso e a velocidade interessam porque não são nossos. O nomadismo é sua prática mais contundente”
(BASTOS, Marcus. ‘A cultura da reciclagem’, 2004)

O texto acima nos induz o pensamento sobre a arte de recriar no contexto da contemporaneidade. Encontro diariamente uma busca na arte de reciclar e  reiventar,  um dito modismo do novo, da novidade onde tudo pode parecer também com algo que já foi feito, criado ou a semelhança de.
No campo da obra artística sempre encontramos as releituras e apropriações, assim como acontece no campo da música moderna , como os samplers, remixes ou remakes.
Cresce nosso olhar  e se amplia a medida que o mundo da tecnologia nos absorve para novas práticas de midias, como é o caso do processo de digitalização.
Apropriar-se significa quase que um ''tomar emprestado'' e que assume algo de um valor incomum no uso das técnicas digitais, fazendo com que a informação seja  mais ágil e transformada por um novo pensamento sobre o mundo atual. As edições de sistemas de digitalização, transformam os efeitos na fotografia de cinema, em editoriais e na publicidade em geral.
A cultura da reciclagem pode trazer para o nosso cotidiano algo que estava perdido, guardado ou esquecido e de um  grande valor cultural. Por exemplo, quando se visita algo do passado como a música e a transferimos para a época atual com regravações ou mesmo em ''samplers'', estaremos sendo induzidos por uma dita  reciclagem cultural. No campo do cinema, isto acontece através de remakes.  No campo da imagem há diversos trabalhos que assumem um contexto de reedição ou fazem ''lebrar de''.
Na arte  isto ocorre em terreno fértil, onde diversos artistas encontram mecanismos de apropriar-se. Parece haver um diálogo da tranformação  querendo parecer  como ''novo''. 
Pórem, temos que avalair até que ponto esta reciclagem sobre a cultura  pode nos trazer benefício. Quando há um resgate cultural , a reciclagem é sempre positiva, desde que evidenciada pelas referências de origem. É preciso ter muito talento para parecer que uma obra evidencie  novidade.
E  por isso, criaram-se os tais direitos do autor , onde prevalesce a originalidade de quem criou.
Atualmente temos encontrado absurdamente em diversos campos da nossa cultura, uma  ''copiação'' dita como cultural. Em determinados casos onde a obra é muito parecida com algo que já foi feito, dizemos  ironicamente que é ''chupação''.
Hoje observando amplamente o universo contemporâneo sobre a reciclagem cultural, nossa visão ampliou e se confude para ver o novo. 
O julgamento sobre a reciclagem cultural, somos nós que estabelecemos os parâmetros legais sobre o apropriar, através  de nossa síntese e de nosso conhecimento.
É díficil ver o novo, em meio há tantos aparatos técnicos, onde tudo pode também ser parecido com algo que já foi feito. As ditas ''vanguardas'' não nos cabem mais neste tempo, pois tudo é sempre superado ou reciclado.

  Marcerl Duchamp (1887-1968)

QUESTIONANDO A ARTE

A partir de uma visão discordante da arte vigente,  Marcel Duchamp assumiu  uma nova atitude diante dela. Para ele, a criação não poderia ser considerada como um produto estético, mas como uma coisa totalmente liberada, livre da moldura imposta pelo aspecto retiniano.

Considerando que o gosto estético é fruto de um mero hábito, Duchamp explica sua opção dizendo que a antiarte foi, sobretudo, colocar em questão o comportamento do artista tal como as pessoas o viam.
Duchamp fez uma revolução no dito  sistema das artes, pois questionava os valores impostos. Ele  através  de sua própria obra traduzia a imagem e reflexão teórica.
Para ele a arte deveria ser um acontecimento para o ''olhar'', nascido na retina e voltado para ela e que  Marcel Duchamp  chamaria de “pintura retiniana”. 
Para ele  a arte merecia reconhecimento, sobretudo, como algo nascido no intelecto e destinado a ele. Para ele  a pintura era algo mental.
Duchamp começou sua carreira pintando. Sua família era formada de artistas e ele desenvolveu um certo talento em sua pintura. Mas ao ver uma tela sua  que havia sido recusada em uma mostra de arte, ele  se revoltou contra o que estava estabelecido.
Os artistas do movimento cubista, solicitaram aos irmãos de Duchamp que pedissem a ele, que recolhesse o  seu quadro intitulado Nu Descendo uma Escada. 
O artista aceitou a recusa, mas passou a se perguntar: quem define o que é uma obra de arte? Como define? Segundo quais critérios? O que faz de um objeto uma obra de arte? Como se decide sua qualidade? Quem tem poder para tanto?Ao propor os readymades, objetos tirados do contexto cotidiano e reapresentados como obras de arte, encontrou uma forma física para aqueles questionamentos, voltados para os olhos, mas sobretudo, para o intelecto.

                    Os readymades de Marcel Duchamp , obras do cotidiano com o olhar sobre a arte.

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